Portugal para cadeirantes

O tradicional eléctrico 28 de Lisboa: um charme! 

(Todas as fotos pertencem ao acervo de Laura, Ulysses e João Martins)



Para entrar no clima da terra linda dos nossos irmãos portugueses, enquanto vocês leem o post, ouçam o fado moderno, lindo, de Ana Moura. Clique aqui.

Olá, galera! Começo uma nova série de posts, agora sobre Portugal. Acabo de chegar de lá. Aos poucos, postarei muitas dicas para cadeirantes e andantes.

Além de visitar a capital, Lisboa, estivemos em Sintra e Cascais, ocasião em que visitamos o Palácio Nacional de Queluz (onde nasceu e morreu o nosso D. Pedro I, o VI de Portugal), o Palácio da Pena, o Cabo da Roca, a Praia do Guincho. Em Sintra, no povoado de Almoçageme, traçamos um bacalhau de comer ajoelhado.

Visitamos também cidades do Alentejo: Évora, Moura, Elvas, Reguengos de Monsaraz e a própria Monsaraz, com seu castelo medieval e sua linda vista para o lago Alqueva. Esticamos e fomos até a cidade de Badajoz, na Espanha.



A belíssima vista do Cabo da Roca 

(falo mais desse passeio em um dos próximos posts!)


Ufa! É muita coisa, não? Mas isso só foi possível porque contamos com o auxílio de um taxista nota dez, que contratamos para fazer os passeios fora de Lisboa. Não se preocupem, vou contar tudo… ;-)

Hoje, falarei das condições gerais para cadeirantes. Nos próximos posts, detalharei os passeios, ok? Lisboa é encantadora, e as outras cidades que visitamos também.

Um alerta sobre o português do Brasil e o português europeu: a língua é a mesma, entretanto as diferenças no vocabulário e na pronúncia não devem ser desconsideradas, porque são muitas e podem prejudicar a comunicação. É preciso paciência de ambos os lados. Nos disseram que as telenovelas brasileiras têm colaborado para que os portugueses nos entendam melhor. Sem dúvida, o fluxo de turistas brasileiros também. Ainda assim, não é raro que a comunicação seja difícil.


Lisboa, com Tejo ao fundo.


Condições gerais para cadeirantes


Lisboa é linda e charmosa, mas não é uma cidade muito amigável com cadeirantes, embora tenhamos notícias de que vem melhorando. De modo geral, as calçadas são revestidas com mosaico (a conhecida “calçada portuguesa”). Isso significa que são escorregadias e irregulares. Quando as pedrinhas começam a se soltar, então, a situação fica crítica, pois podem causar quedas. E a grande parte das calçadas por onde passei estavam em condições muito ruins. Curiosamente, as da Avenida da Liberdade, região nobre da cidade, foram as piores que encontrei.

Além disso, as calçadas não têm rebaixamentos (“rampinhas”). Quando têm, resta um desnível de cerca de 2cm.

A acessibilidade no transporte é irregular: alguns ônibus (autocarros) são adaptados, algumas estações de metrô são acessíveis… Como não usei transporte público, aconselho que leiam os excelentes posts do blog Lisboa (In)Acessível, bastante elucidativos. Clique aqui para ler.

Como ficamos num hotel com excelente localização, fizemos muitos passeios a pé. Quando precisei fazer deslocamentos maiores, usamos táxis, o que não foi lá uma boa experiência, mas isso eu conto daqui a pouco!

Meus acompanhantes usaram metrô e me disseram que funciona bem para andantes. Os electricos (bondes) mais antigos são charmosos, mas complicados, porque são pequenos, apertados, têm degrau alto e vivem abarrotados de gente (em Lisboa, parece não haver baixa temporada; ao que nos pareceu, a cidade está sempre cheia!). Não, não inventem de escalar um electrico mais antigo com a cadeira de rodas; mesmo eu, que tenho parafusos a menos, não achei uma boa ideia. Há risco de ficar entalado! E sabe Deus onde vocês guardariam a cadeira de rodas…



Ruas estreitas, revestimento de pedra, carros sobre a calçada... 

(vejam, à direita, João Antônio empurrando minha cadeira morro acima)



É mais fácil circular nas imediações da Praça do Rossio, no calçadão da Rua Augusta 

e na Praça do Comércio, onde há asfalto ou calçada portuguesa em melhores condições.


Há mais um fator que dificulta a vida dos cadeirantes: Lisboa é uma cidade histórica com ruas estreitas, pavimentadas com pedras, e muitas ladeiras. Para piorar a situação, muitas pessoas estacionam o carro sobre as calçadas. Não foram poucas as vezes em que tive que andar na rua. Andar não: sacolejar. Mas a cadeira só perdeu um parafuso, graças a Deus.


Táxi em Lisboa


Antes de partir, já tinha lido em alguns blogs que pegar táxi em Lisboa é barato, mas os motoristas às vezes são mal-humorados e até rudes. Além disso, as pessoas diziam não ser incomum que eles deem voltas e mais voltas com o passageiro, sem necessidade.

Como sempre, evito acreditar a priori nessas histórias. Gosto de pagar para ver, com prudência. Mas as narrativas, infelizmente, se confirmaram. Sim, há exceções – e aos poucos aprendemos a “reconhecer” quais eram os motoristas que poderiam nos causar infelicidade…



Mosaico português em melhores condições no belo calçadão da Rua Augusta. 

Ao fundo, o Arco Triunfal, que dá acesso à Praça do Comércio.



Os fofos tuc-tucs indianos estão por todo lado...

Chegamos a Lisboa sob tempestade. Pegamos táxi no local errado, por causa de informação incorreta que nos deram no quiosque de informações (pegue táxi no desembarque, não na área de embarque!). Ao chegar ao hotel, o motorista não nos ajudou de forma alguma com a bagagem; além disso, alegou não ter troco para 20 euros, foi rude conosco e, ao descermos do carro, arrancou, fugindo com o dinheiro.

Em outro dia, pegamos um táxi para ir a um local que era próximo, mas em uma ladeira. Ao ver que o motorista estava dando voltas, achando que não conhecíamos nada da cidade, meu irmão perguntou a ele por qual razão estávamos indo em direção contrária. Ele murmurou algo entre dentes e pegou o primeiro retorno.

Felizmente, pegamos também bons profissionais, pessoas pacientes, educadas e gentis. Ufa!

Dica: em Lisboa há táxis beges (mais antigos) e azuis (mais novos). Prefira os segundos. De modo geral, o porta-malas (porta-bagagens, em Portugal) é maior. (Atualização: cortei esta informação, porque o Sr. Aníbal me enviou uma mensagem dizendo que não está correta.)

Alguns motoristas (assim como atendentes em lojas) demonstraram dificuldade para entender o português do Brasil. E algumas vezes nós também não os entendíamos, quando não faziam esforço para falar mais pausadamente e não demonstravam boa vontade de tentar uma boa comunicação. Para mim, é fato que uma boa comunicação depende predominantemente de boa vontade de ambas as partes.

Mais uma coisa: para o embarque, os taxistas não param fora dos pontos de táxi (praças de táxi, em Portugal). Procure saber onde são os pontos antes de se aventurar, ou então peça por telefone ou aplicativo. Além disso, é obrigatório pegar o primeiro da fila. Em uma ocasião, informei ao segundo da fila que minha cadeira não caberia no primeiro carro, por isso gostaria de pegar o segundo. Ele entendeu e avisou ao primeiro da fila, que também entendeu. Em outra ocasião, na saída do Shopping Vasco da Gama, tentamos fazer o mesmo. Porém, o taxista do porta-malas maior foi taxativo: “Cabe no primeiro da fila sim”. E se recusou a nos levar. Restou-nos ficar esperando que alguém pegasse o primeiro da fila, o que, felizmente, não demorou.



Este é o Sr. Aníbal, um taxista fora de série, que fala muito bem o português do Brasil.


Policiais, seguranças e assemelhados


Algo que me chamou a atenção em Lisboa é a dificuldade de encontrar pessoas para dar informações, seja na rua, em shoppings, em monumentos.

Para encontrar um segurança (vigilante) no shopping Armazéns do Chiado, a fim de acionar a plataforma elevatória, foi uma dificuldade. Na Praça do Rossio, de vez em quando apareciam policiais. Mas em Belém não encontramos nenhum nas imediações do Mosteiro dos Jerônimos para nos informar se havia passagem para cadeirantes até o outro lado da avenida, onde fica o Padrão dos Descobrimentos e a Torre de Belém.

Se quiser informações, entre em lojas ou museus e peça aos funcionários.
Sobre segurança pública, em Lisboa não é necessário se preocupar com violência. Nos alertaram apenas para ter cuidado com batedores de carteira, mas não vimos nenhum.


Comércio


Não há acessibilidade no comércio, de forma geral. Contudo, na Rua Augusta há lojas sem degraus, ou com pequenos degraus, e algumas com provadores acessíveis, como Zara e H&M.

O shopping Armazéns do Chiado tem entrada por duas ruas. Há duas entradas na Rua do Crucifixo, uma com escadas rolantes e outra (uma portinha, sem nenhuma placa) com um pequeno degrau. A entrada da Rua do Carmo tem uma rampinha, depois um hall, depois uma plataforma elevatória. Em minha opinião, a mais simples para nós é a entrada com um pequeno degrau, na Rua do Crucifixo. Há banheiro acessível e uma praça de alimentação com preços camaradas, para quem precisa fazer uma economia…

A loja de departamento El Corte Inglés tem acesso total para cadeirantes. Fomos a pé, subindo toda a Avenida da Liberdade e passando por dentro do Parque Eduardo VII e do Jardim Amália Rodrigues. Coisa de gente maluca. Quase morremos de cansaço, principalmente Ulysses, que foi me empurrando, com a língua para fora. Mas o que eu posso fazer? Foi ele que propôs essa insanidade – e eu aceitei.

Para que o post não fique muito grande e cansativo, no próximo continuo as histórias, tá? Fiquem com mais algumas fotos!



Plataforma elevatória no shopping Armazéns do Chiado



Fernando Pessoa observa o movimento no café A Brasileira 

(foto de João Martins)



A bela Praça do Comércio com o Tejo ao fundo



Para saber mais:








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