São Paulo continua acontecendo no meu coração

Ainda há pessoas que acham estranho a gente dizer que vai em viagem de férias para São Paulo. Mas foi isso mesmo que eu fiz em novembro de 2010, com a intenção de conhecer melhor a grande metrópole brasileira, que tem muito a ofertar a quem deseja entrar em contato com sua variada gastronomia, fazer excelentes programas culturais e boas compras e passear em seus belos parques.

Passamos uma semana por lá, o que desejava fazer há tempos, pois até então minhas estadas na cidade haviam se resumido a dois ou três dias. Mas o suficiente para cantar junto com Caetano: alguma coisa acontece no meu coração...

Fui com o namorado. Ficamos hospedados no Tryp Paulista, conforme sugestão do Ricardo Freire, do fantástico e utilíssimo blog Viaje na Viagem. A localização de fato é excelente, a uma quadra e meia da Av. Paulista, sem barulho e perto de tudo. O staff é gentil e simpático; há boas tarifas de fim de semana, e o quarto é completamente adaptado para cadeirantes. Tiveram a sensibilidade de instalar na porta, inclusive, um olho mágico na altura de uma pessoa em cadeira de rodas. O hotel fica praticamente ao lado da Padaria Bella Paulista, que tem uma vitrine de doces e pães de fazer perder o juízo. Ponto de táxi na porta.

A Paulista está bem preparada para receber pessoas com deficiência. Há rebaixamentos em todos os quarteirões, assim como piso tátil. Em geral, a calçada estava em bom estado.

Aproveitamos também as dicas do Riq Freire e fomos conhecer o Terraço Itália. Adoramos o Piano Bar, com as paredes de vidro mostrando as luzes da noite paulistana aos nossos pés. Lindíssimo! Dois pianistas muito bons (uma moça e um rapaz) teceram o acompanhamento perfeito para uma noite muito agradável. Porém, atenção: os preços são altos (para combinar com a altura do prédio — afinal, estávamos no 41º andar) e nada do que comemos ou bebemos nos pareceu especial. Contudo, a vista é impagável! E isso, somado ao piano, já vale a visita. Particularmente se você, como eu, estiver em boa companhia.

Bar do Terraço Itália com vista de tirar o fôlego.  Combina 
com piano e com vinho. (Foto do Google Imagens)


Não fomos ao restaurante, dois lances de escada abaixo, cujo cardápio costuma receber elogios. Ah! O elevador vai até o 41º, mas a gente tem que fazer baldeação para outro elevador e, para o bar, subir dois lances de escada mais três degraus. Claro: tive de ser guinchada. Para o restaurante não há escadas, mas também não há visão total de São Paulo, por causa de um parapeito.

Outro programa imperdível é assistir à missa com canto gregoriano no Mosteiro de São Bento. A celebração é quase completamente cantada, com exceção do sermão. Arquitetura belíssima, vitrais filtrando o sol do início do dia, sensibilidade de manter as luzes apagadas até o início da celebração, canto inspirado dos monges — tudo isso tece uma experiência única e mágica. Quinze minutos antes das horas cheias, ouvimos os sons do carrilhão. Resumindo: é um programa que não tem preço... Aliás, é de graça. Vá correndo!

Mosteiro de São Bento. Clique na foto para 
ampliá-la e ver a rampinha na porta de entrada.
Não é permitido fotografar o interior,
mas você pode ver algumas fotos clicando aqui.
 (Foto de Laura Martins)


Após a missa, abre-se uma porta lateral, através da qual temos acesso a uma sala onde podemos adquirir o CD com os cantos gregorianos, assim como produtos da apetitosa padaria dos monges. Vale dar uma conferida no site da padaria e conhecer a filosofia pro trás dessas iguarias, o que torna pães, bolos e biscoitos mais que gostosos e sofisticados. Na verdade, são especiais. Diz o site que "Em 1999 [a ordem] passou a oferecer ao público bolos, pães, geléias, biscoitos, cujas receitas são seculares, e estavam guardadas no arquivo da abadia". Tenho certeza de que você já deve estar com água na boca.

Comprei os pães de mel para presentear meus colegas de trabalho; eles merecem… O preço não é baixo, mas compensa, porque são divinos. De comer suspirando. Se você valoriza qualidade e reservou um dinheirinho para esses voos, não hesite em comprar algo lá. Não vai se arrepender, eu garanto.

Caixa sofisticada para pães de mel macios e aromáticos,
recheados com geleia de damasco. São muiiiiito gostosos, 

gente! (Imagem retirada do site da Padaria)


A capela do Mosteiro tem acesso para cadeirantes por uma rampa lateral com inclinação muito suave. Não precisei utilizar, mas um dos monges me informou que há um banheiro acessível no colégio, que fica ao lado da capela. A missa ocorre aos domingos, às 10 horas. Chegue bem antes se quiser se sentar ou enxergar alguma coisa, pois muita gente fica de pé...

Já conhecia o Museu da Língua Portuguesa, mas quis repetir a experiência de assistir ao filme sobre a origem da língua portuguesa (muito bom!) e de estar novamente na Praça da Língua, vendo a projeção de imagens e ouvindo o áudio que nos apresenta uma antologia literária. São textos que brincam com as palavras, emocionam, fazem refletir sobre nossa experiência como falantes de língua portuguesa. Falados por Carlos Drummond de Andrade, Bethânia, Mateus Nachtergaele, entre muitos outros, chegam a provocar arrepios e, no meu caso, muitas lágrimas (os que me conhecem sabem que tenho paixão pelo estudo da língua e da literatura portuguesas).

A exposição temporária que está em cartaz homenagea o grande poeta Fernando Pessoa. Está linda, interativa, surpreendente e emocionante. A seleção de textos, impecável.

Perto, almoçamos no Bistrô da Sara: salmão caramelado ao molho de laranja e gengibre guarnecido de arroz ao pesto e acompanhado de salada. Como sobremesa, mini giozas recheadas com doce de leite acompanhadas de calda de gengibre e sorvete de creme. Tudo muito bom e atendimento excelente, num porão decorado com charme. Atravesse todo o Parque da Luz, entre à esquerda e pergunte pela Rua da Graça. Pertinho… Sem acesso para cadeirantes. Lá vou eu carregada de novo. Mas compensou.

Batemos ponto em bons restaurantes. O La Table O, indicado pelos Destemperados, vale uma visita, especialmente pela beleza e charme do espaço. Realmente é um encanto.

Perto do hotel, almoçamos no indiano/vegetariano Gopala Hari, na R. Antônio Carlos, 429. Comida deliciosa, preço ótimo e atendimento simpático e gentil. Muiiittooos degraus! E eu carregada de novo, para transpor uma escadaria íngreme. Mas, como diria Fernando Pessoa, "tudo vale a pena se a alma não é pequena". Ou, na minha versão, tudo vale a pena se você tem uns parafusos a menos... Meu prato foi: arroz aromático jasmine com limão, dahl feito com um mix de feijões, pakora (legumes empanados com especiarias). Huummmm! Até agora estou com água na boca.

Não dá para ir a São Paulo e deixar de bater ponto na cevicheria peruana La Mar, no Itaim Bibi. Tem degustação de ceviches (os melhores que já provei) e maravilhosos coquetéis preparados com pisco. Recomendo fortemente. Tem acesso para cadeirantes e banheiro adaptado. Atendimento nota 10. Por conta da casa, é oferecido um antepasto, com chips de banana, mandioca e batata e três molhinhos feitos com pimentas peruanas, levemente picantes, saborosas e aromáticas.

Cebicheria La Mar (Foto: Laura Martins)


Coquetel Paisana, com maracujá, limão, sprite e pisco.



Não deixe de visitar o Condomínio Conjunto Nacional, onde fica a Livraria Cultura. Vá até o segundo andar, desça as rampas e admire a arquitetura. Por fim, separe umas boas horas para curtir a livraria. Nem sei como descrevê-la sem ser pobre: desníveis, recantos para leitura com luminárias e confortáveis poltronas, teatro, cinema, um acervo de livros, CDs e DVDs de deixar tonto qualquer mortal. Some-se a isso uma simpática cafeteria e constatará que tudo colabora para tornar o ambiente sedutor, acolhedor e charmoso. A livraria é acessível para cadeirantes, há um elevador em um cantinho bem discreto e banheiro adaptado no primeiro piso.

Para este post não ficar excessivamente longo — e cansativo —, teremos a parte 2, com o Masp e a Pinacoteca. Aguarde!


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